segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Allegro


Adoro surpresas cinematográficas.
Ontem fui ver “Allegro” com referencias boas de amigos que tinham visto “Reconstruction”, o filme naterior do mesmo diretor. E outra referencia boa era a Helena Christensen no elenco.
Confesso que logo de cara já fui pego pelo filme. A abertura com cenas noturnas de Estocolmo é linda, quase uma cidade qualquer que pode ser qualquer uma, do jeito que eu gosto, aquele papo de contar a historinha sua íntima mas com alcance universal, fazer do seu quintal o quintal do mundo. É isso que Hr. Boe, o diretor, consegue super fácil em Allegro, transformar uma história de amor e arrependimento num conto lindo de esquecimento e de não memória, criando um universo muito particular e ainda muito geral.
Um filme me tira o chão quando mostra uma realidade própria, quando o diretor consegue criar um universo novo ali dentro, mesmo com as histórias mais “banais”, quase como nesse caso.
Um pianista, um homem bem estranho, quase um autista, se apaixona por uma mulher num encontro bem casual numa rua no meio da madrugada. Essa mulher o ensina uma coisa básica e que pra ele funciona muito: que ele não precisa usar gravata só porque todo mundo diz que ele precisa, que ele pode não usar e criar um estilo próprio. Essa banalidade, pra um cara tão estranho como o pianista, faz uma diferença considerável, tanto que ele solta pra ela “me sinto quase humano quando estou com você”. E isso é tão sério que quando ela o abandona, ele resolve “apagar” toda a sua memória até esse momento crucial. E aí começa a “doideira” do filme, o estado quase de ficção científica a que se transforma o drama de então.
Em Estocolmo, é criada uma “Zona”, onde ninguém pode entrar e ninguém sabe o que acontece dentro. Muitas teorias de que a cidade naquele lado está destruída ou que moram drogados, mas na verdade é a área da cidade onde morava o pianista e onde ele enterra sua memória e sua vida pregressa, porque a partir de então ele se muda pra Nova Iorque e vive uma vida de sucesso e reclusão total, inclusive exigindo que quando ele dê um concerto, que ele não seja visto, que ele toque cercado por paredes e que sua audiência esteja vendada, para que só dêem atenção à música mesmo, que não importa quem a toque, mas o que tocam.
(Um parêntese aqui, qualquer semelhança com djs que tocam mascarados é mera coincidência, mas o princípio é o mesmo filosoficamente)
A pergunta que eu faço é: será que pode haver um acontecimento em nossas vidas, forte e poderoso o suficiente para nos fazer mudar tudo o que sentimos e gostamos até então e apagarmos nossa pré-existência a ponto de não querermos nos lembrar de nada mesmo e fazer com que sigamos dali pra frente como seres humanos novos e renovados? Romanticamente isso é demais e o filme mostra que o problema disso tudo é o arrependimento tardio, e daí, algo com que eu concordo, é melhor não errar pra não se desculpar. Pra mim não tem nada pior do que pedir desculpas. Pense antes pra não errar demais.
Disso tudo, ou alem disso tudo, o filme ainda tem uma fotografia maravilhosa, primorosa pra algo captado em digital e acima de tudo isso, o diretor se mostra um mestre fazendo do ator um exemplo de homem a não seguirmos e de Helena Christensen uma deusa nesse filme, a mulher cujo lábio derrete, a mulher cujo meio perfil faz com que qualquer um deixasse sua vida pra trás.
Que venham mais dinamarqueses como esse!

2 comentários:

gilbarbara disse...

Realmente um puta filme, quero ver de novo!
E fiquei curioso pra ver os outros filmes que o diretor de fotografia (Manuel Claro) fez, Bagland e Dark House.

Alex Fazion disse...

Acontecimentos em nossas vidas capazes de nos inerciar a um trampolim de emoções ainda que nada convencionais, creio indubitavelmente nisso. E é uma das coisas mais normais do mundo.
Quero ver o filme também...rsrsrsr..Aliás, só tô enfiando coisas nas minhas listas de prioridades, isso me toca à disciplina que não tenho muita.
abç pra vc Fabi.