terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Império dos Sonhos


Em 92, eu cobri o festival de Cannes pra revista Set (r.i.p.) e Fire Walk With Me competia. Consegui uma entrevista com David Lynch, e na hora, entraram ele, sua mulher na época e diretora de arte do filme e o anão, aquele que falava ao contrario nos sonhos do filme e do seriado. Bom, eu perguntava pro Lynch e quem respondia era o anão. Achei que era uma piada, mas não era. Foi sério o tempo todo.
Bom, foi foda. E acho que isso meio que explica um pouco como funciona o cara.
Inland Empire seu mais recente “filme”, é sim o mais doido e o pior .
Quer dizer...
Obviamente não dá pra dizer sobre o que é o filme, mas talvez seja sobre uma atriz que vai fazer um filme cujo roteiro é amaldiçoado; na primeira tentativa de produzí-lo os atores principais morreram e eu fiquei esperando o tempo todo acontecer a mesma coisa. Mas é pior, garanto.
É terror, é horror, é drama, é comedia, é surreal, é de tudo um pouco, não é nada, sei lá. Me irritou muito o filme ter 3 horas, muita coisa pra nada. Ou pouco demais pra que eu entendesse, irritou ainda.
A conclusão que eu tirei do filme é a seguinte, mais ou menos: Lynch fez Inland Empire com câmeras digitais, vídeo. O filme que ele está filmando dentro de Inland é feito com câmeras Panavision, película, 35mm. Assim, a conclusão é que pro diretor doidão, o cinema é película. Já que ele ta fazendo vídeo, o que ele ta fazendo é alguma coisa que não cinema, talvez sonho, talvez pesadelo, mas não cinema. Ou o contrário. Talvez o que ele esteja fazendo, o Inland, seja cinema, em vídeo, mas cinema. E dentro do filme alguma coisa antiquada, que se perdeu, que se misturou.
Entendeu? Pois é, o filme é assim, sem que se entenda nada, ou quase nada. Como sempre.
Lynch vem pi(o)rando com o tempo, pense em Veludo Azul e pense em Estrada Perdida, como ele tá mais e mais surreal/doido/estranho/sei-lá-o-quê com o passar dos anos.
A trilha do filme é um primor, e pela primeira vez tem muita música feita pelo próprio Lynch, mais do que músicas de outros caras. Dá pra baixar aqui a trilha e vale bem a pena.
Agora, o filme é um presente pra Laura Dern, sua atriz talvez preferida mesmo: o filme é dela e pra ela. Ela está genial, super atriz competente e num nível que são poucas as que chegam lá, ainda mais na sua idade. E o resto do elenco, de colaboradores meio que fixos do Lynch, com destaque mesmo pras cenas iniciais do filme com a doida da Grace Zabriskie, desfocada e atordoada!
Nem adianta falar tanto do foco ou da falta dele ou da opção pelo foco no lugar errado, da luz, dos escuros do filme, da não-concessão absoluta de Lynch, mas nada adianta, nada explicaria ou justificaria não ver mais uma porrada desse doido, o mesmo do anão!

2 comentários:

gilbarbara disse...

Vou assistir de novo esse dias, pra ver se entendo melhor!
Mas pirações a parte é um otimo Lynch, clima super claustrofobico. E a Laura Dern ta fabulosa!

Alex Fazion disse...

vou ter que assistir..pra dizer algo...
bom que já vou preparado.